Reunindo um panteão de deusas pagãs, a força de um feminino ancestral da terra e do corpo, a Cia Líquida estreia a circulação do espetáculo "Cio da terra" no dia 05 de maio, às 18h no Teatro Angel Vianna, na Tijuca. Desenvolvido e encenado pela artista multilinguagem Mery Horta, que dança e performa o primeiro solo de sua carreira, este trabalho é o terceiro desenvolvido pela companhia e dá seguimento aos anteriores, inspirados pelos elementos da natureza. "Cio da terra" será apresentado em outros municípios e a circulação contempla ainda uma oficina de dança gratuita para mulheres cis e transexuais, que acontece no próprio Centro Coreográfico dia 04 de maio, às 9h30.
Caverna, corpo-fenda, abertura que cria universos outros a partir das próprias entranhas, o espetáculo instaura uma ambiência sensorial terrosa onde são trabalhados elementos do corpo feminino, seus ciclos e inquietações. Num universo microcosmos de tempo cíclico espiralar que entrelaça presente, passado e futuro, que revira o tempo e o pluraliza, a montagem abre fendas e passagens por onde se insinuam o riso e o gozo, rasga um sulco na terra por onde brotam novos sentidos e possibilidades. Permeando muitos dos trabalhos da multiartista Mery Horta, o vermelho e o urucum são dois elementos que se relacionam com sua ancestralidade afro-brasileira e indígena e, ainda, com questões do feminino. Na montagem, eles se juntaram à ideia de pensar com outras partes do corpo - como o quadril, o útero e os pés - um modo de dar atenção e desenvolver os saberes ligados a essas partes.
"Muitas vezes deixamos de lado partes do corpo em detrimento de uma hierarquização da cabeça como centro do raciocínio e do pensamento. Nessa ideia de pensar com outras partes do corpo abrem-se outros caminhos para a cena. Local gerador de vida e morte, o útero é como um microcosmos de força vital para o corpo feminino e que geralmente é visto como um tabu em nossa sociedade. O próprio ciclo menstrual, que está diretamente ligado ao ciclo de vida da mulher, é extremamente importante ser tratado assim como os ciclos da natureza, ciclos de morte e vida, do sangue menstrual ao ovário que se regenera. A montagem pretende contribuir nessa discussão por meio de uma perspectiva poética e artística", adianta Mery.
Diferentemente das montagens anteriores, onde orixás estavam intrinsecamente ligados aos espetáculos, em "Cio da terra" a relação divina surge de formas variadas na inspiração e relação com a dança e sua cena.
"Nossa pesquisa de movimento revelou características de algumas divindades pagãs. O orixá Nanã foi uma delas, assim como as deusas Balbo e Hécate. Em registros da Grécia antiga, Balbo é uma deusa que, em sua representação, possui os olhos no lugar dos seios e a boca no lugar da vagina. Hécate, a deusa de três cabeças, vem como uma sabedoria ligada a esse feminino ancestral, da cura através das ervas, dos jogos de palavras. Junto de todo esse panteão, trazemos ainda uma transmutação com a natureza proposta pela cultura oriental, o ser montanha, ser árvore, bem como tomamos como referência autores afro-brasileiros e indígenas como Leda Maria Martins e Ailton Krenak", resume Mery, que desenvolve pesquisas e criações na dança, nas artes visuais e na performance.
SERVIÇO:
"CIO DA TERRA"
Apresentação: 05 de Maio de 2024
Local: Teatro Angel Vianna
Endereço: Tv. José Higino, 115 - Tijuca
Horário: Domingo, às 18h
Ingressos Gratuitos
Link de retirada de ingressos: https://riocultura.eleventickets.com/#!/apresentacao/6ab4dbae3005517b18f741c1f19316d62f2cb64a
Classificação Indicativa: 14 anos
Duração: 45 minutos