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Fim do Vilinha

Atlética Vila Isabel encerra suas atividades deixando um legado para a história do bairro

Yolanda Braconnot, presidente da AAVI, fala sobre a luta para manter o clube

Foto: Divulgação/A.A. Vila Isabel
Foto: Divulgação/A.A. Vila Isabel

A Associação Atlética Vila Isabel encerrou, no mês de março desse ano, suas atividades sociais e esportivas marcando para sempre a história de Vila Isabel. O clube, fundado em 08 de maio de 1950, estava com 69 anos de existência e era conhecido por seu tradicional time de futebol que revelou vários craques da bola, por seus times de basquete e Futsal, por apoiar as lutas de artes marciais, por seus bailes de debutantes no salão social, almoços dançantes, festas e por trazer shows de grandes nomes da música como Emílio Santiago, Agnaldo Timóteo, Nelson Gonçalves, Mumuzinho e Arlindo Cruz. A crise que se abateu sobre todos os clubes com a diminuição do número de frequentadores ao longo dos anos e antigos processos judiciais e trabalhistas levaram ao leilão de dois dos três terrenos pertencentes à AAVI e, consequentemente, ao seu encerramento.

A presidente da AAVI, Yolanda Braconnot, que assumiu o clube no período de 2008 e 2009 e estava à frente da instituição desde 2011, relatou ao portal Grande Tijuca a grande luta para manter a associação atlética aberta até esse ano e sobre a difícil decisão do fechamento.

"Minha história com o clube teve início desde a minha infância, quando frequentava com os meus pais. No ano de 2004, depois de muito tempo, voltei a participar e acompanhar e, em 2008, após muitos amigos me pedirem, me candidatei à presidência da AAVI. Nessa época, comecei a tomar ciência da situação financeira do clube e das dívidas deixadas pelas gestões passadas. Quando entrei em maio de 2008, já havia acontecido o primeiro leilão com arrematação do terreno nº 164 da 28 de Setembro que ficava o salão social, a cozinha e parte da quadra. A dívida que originou o leilão foi um empréstimo de um antigo diretor para o clube que, com uma vasta documentação e uma assessoria jurídica muito competente, entrou com um processo judicial cobrando o pagamento que equivalia, nos dias de hoje, a 100 mil reais. Esse primeiro terreno foi leiloado por 375 mil reais, só que o valor do leilão não cobria 30% dos processos que estavam apensos, e o arrematante não se mexeu. Além desse processo o clube já possuía uma dívida alta com a CEDAE e que estávamos pagando parceladamente, com a Receita Federal e dívidas trabalhistas. No ano de 2009, saí em agosto da presidência do clube, porque me dei conta que era realmente impossível de se resolver os problemas do clube. O clube estava com muitas dívidas, um quadro social muito pequeno e os eventos, que a gente ainda conseguia fazer na época, ficaram suspensos por causa das proibições por perturbação do sossego alheio. O presidente do Conselho chegou a assumir, só que em 2010, veio, então, o leilão do terreno do número 160, e os arrematantes achavam que estavam comprando todo o clube por causa de um erro no edital. Só que eram três terrenos o 164, o 160 e o 158. No ano de 2011, as pessoas que arremataram se apresentaram querendo tomar posse e aí eu resolvi voltar para o clube. Na ocasião, o presidente na época não quis fazer uma comissão para negociar e o conselho deliberativo pediu que eu voltasse. Quando retornei, o clube já tinha 2/3 do terreno perdido, mas graças à nossa advogada, a Dra Katia Moreira, e a minha perseverança de lutar com todas as forças, fui atrás do ex-prefeito Eduardo Paes e consegui que, em 2012, fizesse um decreto desapropriando o clube para fins de utilidade pública. Isso era uma possibilidade, onde a prefeitura compraria os espaços dos novos donos. Cerca de cinco anos se passaram e acabou que o prefeito não efetivou a desapropriação. As pessoas, inclusive, culpam o prefeito por não ter desapropriado o local. Mas não é verdade. A desapropriação era uma busca de alternativa. Todas as dívidas, a interdição sonora, um quadro social pequeno, a falta de novos membros para dar continuidade ao clube foram a pá de cal. Nós até criamos um time de futsal, que sempre foi muito famoso, e um time de basquete, e o Jorge Artur das Ferragens em 2015 foi muito importante no fortalecimento dessas atividades esportivas no clube, mas o fato é que estava tudo vendido. Nós chegamos, na esfera jurídica, a conseguir alguns ganhos, como uma liminar para impedir a tomada do clube, utilizando a tese da indivisibilidade, já que são três terrenos e tem prédios que unificam a indivisibilidade, graças à competência de nossa advogada. Isso fez com que nós tivéssemos uma sobrevida, mas, em determinado ponto, chegou a uma instância que o desembargador dizia que todos tinham que se entender e ver quem vai ficar com uma parte. Nós, então, já tínhamos definido que, no dia 05 de abril, seria o último dia do clube, porque não tinha mais condições. Pagar as contas do clube de luz era uma tarefa difícil. Eu tinha muitas coisas para pagar e esperar o clube me pagar, e, aí, não tinha mais como. O fato de os condomínios terem tomado o espaço dos clubes, passando a ter piscinas, diminuiu o número de sócios. Nós víamos que as pessoas só se associavam aos clubes por conta da piscina e da época de verão, mas temos alguns sócios que foram fiéis aos que eu, enquanto presidente, agradeço imensamente, já que até o apagar das luzes estavam lá com a gente ajudando. A parte de esportes era o que ainda trazia jovens para o clube, mas mesmo assim o Vila só tinha três mil metros quadrados. Nós tínhamos eventos também maravilhosos, como as apresentações do grupo Celebrare, do Mumuzinho, Almir Guineto, até que, em 2015, veio a interdição sonora. O clube ficou proibido de fazer qualquer evento com sonorização sobre pena de prisão, já que havia um processo de 1999 que pedia a interdição dos bailes funk´s que aconteciam ali. Enfim, o clube só não foi fechado em 2011, porque passamos o dia na porta do clube com o microfone e conseguimos que os arrematantes não tomassem posse do terreno. Todos esses anos foram de muito sacrifício, mas cumprimos esse papel de integrar", disse Yolanda Braconnot.

Os novos donos do terreno do clube iniciaram a demolição do imóvel em 2019, mas após muito diálogo com a diretoria do clube foram mantendo o espaço aberto.

De acordo com Yolanda Braconnot, os novos donos não têm previsão do que será construído no imóvel.

Entretanto, as lembranças alegres, a sua história e a luta pela permanência do clube por parte de seus sócios e de sua diretoria ficarão marcadas na memória do bairro.


Foto: Divulgação/AAVI

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