Moradores da Grande Tijuca querem uma solução para o imóvel do antigo Carrefour Tijuca, localizado na Rua Conde de Bonfim, número 1181, na Tijuca. O espaço, de aproximadamente 3000 m², foi construído em 1997 pelo Grupo Carrefour e desativado em fevereiro de 2005, após os constantes saques ao estabelecimento e aos conflitos nas comunidades do Borel e de Indiana, dominadas pelo tráfico de drogas. Nas últimas semanas, várias fotos do atual estado do prédio postadas nas redes sociais sensibilizaram moradores e antigos frequentadores que se lembraram de momentos no local e questionavam o motivo de o local estar fechado até hoje.
O portal Grande Tijuca apurou que o imóvel foi vendido em dezembro de 2009 pelo Grupo Carrefour por R$ 14.000.000,00 (quatorze milhões de reais) para a empresa Realesis Holding S.A. A empresa comprou o prédio, porém, até o momento, não conseguiu transferir o espaço para o seu nome, devido a um processo judicial contra a Prefeitura do Rio, que questiona a cobrança indevida no valor do Imposto de Transmissão de Bens e Imóveis (ITBI). A Prefeitura do Rio teria avaliado o local por um valor bem acima do preço de mercado. O processo se estendeu na justiça por 11 anos e, somente em maio deste ano, foi concluído.
A área, desde o fechamento do hipermercado há 15 anos, também já foi avaliada para abrigar vários projetos por órgãos dos governos estaduais e municipais. No ano de 2010, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação cogitou a possibilidade de demolir o prédio e construir, no terreno, casas do programa Minha Casa Minha Vida para 438 famílias da Favela de Indiana. Os moradores de Indiana se manifestaram contra o projeto e a ideia foi abandonada. O Governo do Estado do Rio de Janeiro também pensou em desapropriar o prédio no mesmo ano e torná-lo uma unidade do Batalhão de Operações Especiais (BOPE). A proposta foi avaliada, mas descartada logo depois.
No ano de 2011, o então deputado Gilberto Palmares (PT) fez uma indicação legislativa aprovada na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro para a desapropriação do prédio e a construção de um Centro de Vocação Tecnológica (CVT) na Tijuca. Apesar da aprovação a proposta não prosseguiu.
Já no ano de 2013, o atual deputado estadual Marcelo Queiroz (PP), quando era vereador na Câmara do Rio, encaminhou uma proposta para a Subsecretaria Municipal de Esportes e Lazer de desapropriação e implantação de uma Vila Olímpica no espaço. A indicação foi encaminhada ao órgão, mas não foi adiante.
Moradores fazem sugestões para o destino do prédio
Nas redes sociais, vários moradores deram ideias para a destinação do prédio, como a volta de um supermercado para a localidade e até a desapropriação para algum equipamento público. Segundo eles, o espaço é constantemente invadido por usuários de drogas e moradores de rua, que retiram o que sobrou do antigo supermercado.
Safe Sattam Junior, morador da Tijuca, preocupado com a atual situação de abandono do antigo Carrefour Tijuca, fez uma live no interior do edifício, mostrando que, apesar do tempo, as garagens do prédio e a estrutura estão em perfeitas condições. Um outro vídeo gravado no último andar, onde ficavam as lojas e o supermercado, é possível se observar que o andar ficou intacto e que ainda restam móveis, o letreiro de algumas sessões, cartazes e até prateleiras ainda presentes. Safe sugere que o local poderia virar um Hospital de Campanha.
"Eu andei pelo primeiro e o segundo andar do estacionamento. Ali você vê com precisão que, por causa da chuva em alguns pontos, o teto deu estalactites, mas isso é uma questão de limpeza e manutenção. No terceiro andar, vi que alguns pedaços do telhado foram afetados. Fora isso e as coisas quebradas pela depredação, a estrutura está perfeita e dá para construir qualquer coisa ali. Inclusive, sugeri até um Hospital de Campanha", disse Safe Júnior.
Já a arquiteta Isabelle Arkan, que morou na Tijuca por muito tempo, avalia que essas estruturas pré-moldadas são construídas para durar por muitos anos e que a localização e o fácil acesso aos meios de transporte viabilizam um novo destino para o prédio. Ela relata que, em 2010, quando planejava um projeto final para a faculdade de Arquitetura, realizou um estudo de viabilidade com a ideia de apresentar um projeto de reestruturação do imóvel para se tornar a quadra da escola de samba Unidos da Tijuca. Na época, a Prefeitura do Rio estava financiando algumas reformas em quadras de escola de samba. A ideia foi bem vista de início por alguns representantes dos órgãos municipais, mas, como o imóvel é privado e havia um processo judicial entre a prefeitura e os proprietários, a proposta não pôde ir para frente.
"Eu fiz um estudo de viabilidade mostrando o que seria interessante para área. O que teria ali seria a quadra, um centro cultural, que iria melhorar a área e trazer uma movimentação, já que o espaço seria transformado em uma casa de espetáculos onde tiraria eles do centro do Rio, melhorando o acesso de pessoas, pois teria um estacionamento suficiente para ter carros. Pelo que eu tinha olhado de um projeto muito antigo, lá dava para juntar a quadra da Unidos da Tijuca e a da Império da Tijuca e fazer um mega centro cultural. A quadra da escola ficaria onde era o mercado e uma área da garagem seria utilizada de acordo com que a prefeitura exigisse para assistir os eventos, e as outras áreas seriam usadas para o centro cultural e até um centro técnico ou uma escola que pudesse ser usada pelos moradores da comunidade do Borel", disse Isabelle.
Com o desejo e a expectativa por parte dos moradores de que, finalmente, o prédio venha a ter um destino que possa dar vida àquele espaço no coração da Tijuca, o portal Grande Tijuca entrou em contato com a Prefeitura do Rio e com o Governo do Estado para saber se havia algum projeto de desapropriação do imóvel.
A Prefeitura do Rio disse em nota que "não há na Subsecretaria de Patrimônio Imobiliário, da Secretaria Municipal de Fazenda, qualquer estudo referente à desapropriação deste imóvel".
Já o Governo do Estado do Rio de Janeiro não justificou se tem a intenção de desapropriar o local e apenas disse em nota "que o imóvel não pertence ao Governo do Estado".
Embora o Estado não tenha enviado uma resposta sobre a desapropriação, na petição do processo aberto na justiça pela Realesis Holding S.A contra a Prefeitura do Rio em 2009, a empresa cita que, no período anterior à compra do imóvel, o estado chegou a cogitar a desapropriação do prédio e que enviou um engenheiro para avaliar o imóvel.