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Depois de 50 anos de tragédia, Elevado Paulo de Frontin vive novo risco de queda

Moradores denunciam estado de conservação e conselheiro do CREA-RJ cobra manutenção imediata. Há 50 anos, trecho caiu e matou 29 pessoas

Fotos: Victor Reis da Silva (COLMEA)
Fotos: Victor Reis da Silva (COLMEA)

No dia 20 de novembro de 1971, um grave acidente deixou 29 mortos, 18 feridos e um grande trauma para quem acompanhou a queda do Elevado Paulo de Frontin, no Rio Comprido. Um único trecho de aproximadamente 50 metros desabou entre as esquinas da Rua Haddock Lobo com Avenida Paulo de Frontin, soterrando 22 carros, um caminhão, um ônibus e dezenas de pessoas. Hoje, 50 anos depois, o "alerta" de quem mora no entorno da construção ficou mais ligado. Pedaços enormes de concreto caem constantemente do Elevado, vigas metálicas que sustentam a estrutura aparecem bastante enferrujados, em dias de chuva há infiltrações nítidas (a ponto de ter pequenas cachoeiras embaixo do elevado), moradores de rua se alojando embaixo do concreto e o estado de abandono preocupam moradores, comerciantes e quem transita pelo local.

O engenheiro Antônio Eulálio, conselheiro do CREA-RJ, coordenador adjunto da Câmara de Engenharia Civil do órgão, e especialista da Patologia das Estruturas (diagnóstico das "doenças" do concreto) e especialista em pontes e estruturas, há anos alerta para os riscos de nova queda do Elevado Paulo de Frontin. Ele já alertou outros governos, como o do próprio Paes, sobre os riscos.

"O elevado tem que entrar num plano de recuperação estrutural. Há sinais de carbonatação nos dentes de articulação e as juntas não são impermeabilizadas e com as chuvas e urinas, normalmente ácidas, aumentam riscos de corrosão. Ideal seria reparar esses dentes e é uma solução difícil", explica Eulálio, que sugere que o IPVA (Imposto sobre a propriedade de veículos automotores) tenha parte do valor retido para obras de recuperação estrutural de pontes, viadutos e passarelas sob jurisdição da Prefeitura.

A carbonatação do concreto pode ser definida como um processo físico-químico entre o gás carbônico (CO2) presente na atmosfera e os compostos da pasta de cimento. E este processo de carbonatação do concreto avança de fora para dentro, por meio de poros que permitem a entrada do CO2 e outros agentes agressivos, tais como os cloretos, que transformam a película que envolve a armadura de ph básico para ácido, contribuindo para corrosão por eletrólise. Quando a armadura começa a ser corroída, o diâmetro aumenta provocando fissuras ao longo do concreto e acelera o processo de corrosão.

Para Victor Reis da Silva, da Comissão Legal de Moradores e Empresários e Amigos do Rio Comprido (COLMEA), "ver o futuro repetir o passado" (como diria Cazuza) é um perigo iminente.

"O viaduto hoje, encontra-se em condições precárias, sem nunca ter passado por nenhuma manutenção e/ou inspeções das quais ele deve e tem que passar, seguindo a normativa da ABNT NBR 9452/2019, vide as imagens...e nós moradores somos os maiores interessados em que essa Obra de Arte Especial - OEA, como é a denominação correta dessa obra, esteja em plena harmonia estrutural, para não sofrermos com uma possível queda, assim como aconteceu em novembro de 1971", relata Victor.

Para o psicanalista Nilton Cardoso, 62 anos, que morava perto dos escombros e acompanhou a retirada dos mesmos após a tragédia, as lembranças são traumáticas.

"Eu tinha 12 anos. Minha mãe perdeu dois conhecidos do trabalho e nós estávamos indo para Copacabana. Já tínhamos passado por lá, por baixo, pela manhã. E a tarde ocorreu o acidente. E em 1974, saímos do Cachambi e fomos morar em frente ao local da tragédia. Como psicanalista, analisamos que existem três tipos de trauma. O que vivenciamos, o que imaginamos (e é o caso do elevado, pois poderíamos ter sido vítimas) e o simbólico, que olhamos e vemos que muita gente sofreu por causa da queda. Na época da obra de reconstrução, era muita poeira, muito barulho de britadeira. E se não houver manutenção, há realmente riscos de cair. E teremos novas pessoas sofrendo traumas", relatou Nilton.

E o que diz a Prefeitura?

Procuramos a Prefeitura para falar sobre o estado de conservação do Elevado Paulo de Frontin. Em nota, informou que "a Secretaria de Infraestrutura fará uma vistoria ao longo do elevado ainda esta semana e que irá realizar as manutenções necessárias".

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