Neste feriado do Dia de Finados (2), em uma cerimônia realizada no Crematório e Cemitério da Penitência (RJ), o Cardeal Orani João Tempesta, Arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro, inaugurou a Chama da Esperança e homenageou as famílias vitimadas pela pandemia da Covid-19.
Ainda na madrugada desta segunda-feira (2), por volta das 4h30, funcionários realizaram os últimos retoques para receber os visitantes, seguindo todas as medidas de proteção.
A primeira missa campal do dia foi celebrada, às 7h30, pelo Cardeal Orani. Ele abriu a celebração com uma mensagem as pessoas que perderam seus entes queridos pela Covid-19 e que não puderam velá-los.
"Hoje, fazemos uma oração pelos que se foram, mas também uma celebração de esperança representada pela pira com a Chama da Esperança que servirá como uma luz para que pesquisadores da Fiocruz cheguem a vacina contra o novo coronavírus. Sabemos que a vida não termina para sempre. Seus corpos partiram, mas a vida continua para a eternidade", afirmou o Cardeal.
Dom Orani também lembrou dos profissionais de saúde que morreram e pediu orações por médicos, enfermeiros e demais profissionais que atuam na área de frente nesse momento de pandemia.
Após a missa, o Cardeal também plantou uma muda de jequitibá-açu no Jardim in Memoriam. A Árvore-símbolo do Rio de Janeiro está em extinção e representa a perpetuidade e a evolução da vida.
"Nesse momento pedimos a Deus que continue nos conduzindo com esperança e confiança", disse o religioso.
A ação, sugerida pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é uma referência a importância da preservação ao meio ambiente e contra as queimadas no país.
Columbário-jardim
Em seguida, o arcebispo do Rio inaugurou o primeiro columbário ao ar livre do Rio e segundo do Brasil. Ele ouviu da criadora da obra DNA Humano, a arquiteta Crisa Santos, uma explicação sobre o espaço, que é um convite à reflexão e conexão com os entes que partiram.
O monumento batizado pelo arcebispo tem 30 metros de extensão e está instalado numa área verde de mil metros quadrados. O columbário-jardim é formado por 157 estruturas tubulares de três a seis metros de altura que desembocam num espelho d"água, de onde sai um banco de concreto, dando o efeito de continuidade ao monumento.
A arquiteta se inspirou na sequência de Fibonacci, o mais talentoso matemático ocidental da Idade Média, para desenvolver o projeto.
A vida não para
Outro simbolismo de conexão entre os vivos e os que já se foram foi a revoada de 200 balões, promovida pela campanha de apoio a pessoas enlutadas do Crematório e Cemitério da Penitência: o projeto A Vida Não Para.
A ação foi comandada pelos coordenadores do projeto, a assistente social Márcia Torres e o psicólogo Paulo Victor. Márcia fixou aos 200 balões as mensagens recebidas dos internautas nas redes sociais pelas Cemitério.
"Ao soltar os balões, pense em que se foi. Faça uma homenagem ao ente querido e lembre-se dos momentos felizes que viveram. Soltem os balões, cada um no seu tempo", disse a assistente social.
Chama da esperança
Na missa das 11 horas, celebrada pelo Padre Pedro Paulo, uma vela foi acesa na pira Chama da Esperança e entregue para a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.
O padre destacou que a pira representa a luz divina para que a descubra a cura para a Covid-19. Nisia agradeceu a confiança na instituição.
"A Fiocruz levará essa chama para nos acompanhar para simbolizar o trabalho da Ciência, o trabalho do Sistema Único de Saúde", concluiu.
A célula da Chama da Esperança seguiu para a Fiocruz em um lampião de vidro e, assim como a pira do Cemitério, ficará acesa até a descoberta oficial de uma vacina contra a Covid 19. Além disso, a chama simbólica será entregue ao conselho diretivo da entidade.
Live
Todas as atividades do dia foram transmitidas pelas redes sociais do Crematório e Cemitério da Penitência. Apenas a live com o escritor e poeta Fabrício Carpinejar foi restrita a transmissão pelo Instagram do cemitério.
Carpinejar falou sobre memórias, luto, sentido da vida e saudade, ressaltou que é preciso valorizar os encontros na vida.
"As amizades iluminam as nossas memórias", disse o escritor.
Para ele, a maior lição da vida "é que não é preciso ver para amar". Carpinejar ainda ressaltou que o choro de quem partiu é "o choro do agradecimento". Durante a live, foi apresentado o vídeo Iluminando Memórias - A Maior Homenagem de Velas do Mundo, com texto e narração do poeta Allan Dias Castro.
O projeto foi idealizado pelo Grupo Cortel, administradora de nove cemitérios no Brasil, entre eles, o da Penitência, no Rio de Janeiro, comandou o movimento que convidada as pessoas a acenderam velas pela memória de quem se foi. Só nos cemitérios da Cortel, 50 mil velas foram acessas nos 30 dias que antecederam a Finados.
O dia de celebração foi encerrado com uma missa campal comandada pelo Padre Pedro Paulo, às 15h. Cerca de duas mil pessoas visitaram o Crematório e Cemitério da Penitência no dia de hoje – 90% a menos do que o dia de finados no ano passado.
Esse ano, o horário de visitação no local também foi reduzido em uma hora por conta da pandemia. A administração do cemitério tomou medidas restritivas para evitar o contágio pelo novo coronavírus:
O superintendente. do Crematório e Cemitério da Penitência, Alberto Brenner Júnior, falou sobre o evento.
"Todas as nossas missas foram realizadas ao ar livre. Além disso, colocamos diversos dispensers de álcool 70, nos preocupamos com a medição de temperatura na entrada e pedimos distanciamento social e obrigatoriedade do uso de máscara. Quem optou por não visitar o cemitério esse ano, a opção foi acompanhar todas as nossas atividades através das nossas redes sociais", reforçou o superintendente.