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por Caroline Carvalho

Praça da Bandeira: alagada desde sempre

Imagem de destaque da notícia

Se tem uma coisa que o carioca teme é chover demais e alagar a Praça da Bandeira. E esse medo não é de hoje.

Desde que o local foi oficialmente criado em 1911 que as chuvas castigam a região. São mais de 100 anos de alagamentos.

Além da geografia não ajudar muito (fica entre vários morros), por ali passavam (ainda passam bem tímidos) alguns rios e a região já foi um grande manguezal. Isso aí. Não é à toa que choveu, encheu.

Acompanhe!

Quando Dom João se estabeleceu aqui, quis um caminho que ligasse a Quinta da Boa Vista ao restante da cidade, que ficava no Centro, como você já viu aqui na coluna. Esse caminho passava por um grande brejo, e com isso, sanearia o local, foco de infecções, mosquitos e cheiros bem ruins.

Entretanto, a obra era muito grande e dispendiosa para a época, e foi construído unicamente um longo estreito caminho sobre aterro, para passagem das carruagens do Rei e membros da corte que dirigiam ao Paço Real da Quinta da Boa Vista em São Cristóvão.

O local como também o caminho passou a se chamar "Aterrado" ou "Caminho das Lanternas". Este último nome se deve ao fato do caminho ter sido iluminado pelo então Intendente Geral de Polícia, que cuidava do serviço de iluminação da Corte.

Embora existisse o caminho aterrado, continuava a existir uma grande vala que corria ao longo do Caminho do Aterrado além de uma ampla área alagadiça. Existiram ideias de drenar e sanear o local construindo um estreito canal. Mas esta ideia somente se concretizou em 1857, quando foi construído o Canal do Mangue.

Na verdade, desde 1835 o Governo Imperial havia decidido que aquela área seria saneada, reduzindo tudo a um estreito canal para receber as águas de chuva e também dos riachos que lá desaguavam. Mas foi quando o empresário Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, obteve a concessão para construir o canal é que ele saiu do papel. A ideia era que o canal chegasse até a Praça 11, permitindo inclusive navegação de pequenas balsas para transporte de mercadorias.

Essa área toda era conhecida como Manguezal de São Diogo, e pelo que se percebe, a drenagem não deu tão certo assim. Na imagem, você pode perceber a área onde hoje é a Praça da Bandeira, estava completamente alagada até meados do século XIX.

Em 1853 se instalou no local o matadouro público, que fez com que a região fosse chamada também de Praça do Matadouro. Em 1881 o matadouro foi transferido para Santa Cruz e com isso, o local passou a pegar carona no desenvolvimento dos bairros vizinhos.

A urbanização da Praça culminou em um fato histórico. Em 19 de novembro de 1889, a atual bandeira do Brasil foi hasteada pela primeira vez na história no local, que passou a ter o atual nome desde então. A partir dos anos 1920, a região que antes se limitava à condição de praça, passou a ser rapidamente povoada com casas e prédios, ganhando atmosfera de bairro.

Apesar da nova imagem, a região continuou a ser assolada por grandes enchentes, consequência de sua localização geográfica em terreno pantanoso. Em 8 de dezembro de 1911, poucos dias após as festividades da bandeira, a Praça voltava aos jornais:

"O último temporal que desabou sobre a cidade veio provar que há necessidade de cuidar seriamente do meio das águas terem pronto escoamento, evitando as enchentes que tantos prejuízos causam à população.
Entre outros pontos inundados são dignos de nota a praça da Bandeira e ruas Mariz e Barros e Matoso".

Considerando o temporal ocorrido, o jornal A Noite publicou uma seção intitulada "A praça da Bandeira continua a ser o largo do Matadouro", onde se lia:

"O largo do Matadouro é considerado um lugar maldito, alguma coisa parecida com a antessala do inferno. As inundações são ali tradicionais – e que inundações! A água cobre às vezes um homem e têm feito muitas vítimas."

Mas, parece que a vocação para as enchentes não tirou o ânimo dos governantes, pois, a partir de 1918 a praça passou a receber grandes feiras livres, que resultavam de um movimento diretamente relacionado à carestia gerada pela 1ª Guerra Mundial.

De aparência renovada, nas décadas seguintes a Praça da Bandeira solidificou o seu caráter comercial, recebendo diversos serviços como confeitarias, restaurantes, ourivesarias, circos, salas de teatros e cinema, além de abrigar prédios públicos das diferentes esferas de governo.

A área foi afetada por grandes obras na gestão do governador Carlos Lacerda (1960-1965), como a Avenida Radial Oeste e o Trevo das Forças Armadas. Datam também das décadas de 1960-70 a construção das Estações Praça da Bandeira, substituindo a antiga Estação Lauro Muller, e da nova Estação de Metrô – São Cristóvão.

Nos últimos anos, a tradicional praça passou por obras de infraestrutura na tentativa de minimizar os efeitos causados pelas chuvas na região. Nesse sentido, foram construídos reservatórios subterrâneos para o armazenamento do excesso de água.

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